Reflexão diária!

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MEU ÚLTIMO DIA DE VIDA

É, hoje é o meu último dia de vida.

Acordei mais cedo e fui até o armário para encontrar uma foto de quando eu tinha 15 anos. Era de manhã, a casa dos meus pais não tinha muros e me lembro de quando a moça que tirava fotos chegou.

Olhando para a foto, tentei lembrar-me de como era minha voz naquela época, o que eu pensava e como eu imaginava que seria aos 71 anos, lembrei do meu pai me pedindo para sorrir, e me senti grata por esta foto, por esta lembrança hoje.

Fui até a cozinha e preparei o café: panquecas e ovos fritos, calmamente posicionei tudo sobre uma bandeja, o café com leite, um pedaço de mamão e uma folha de caderno com a letra da música que sempre vinha em meus pensamentos.

Uma lembrança fez meu coração acelerar, mas eu não poderia chorar, afinal de contas tudo já tinha acabado mesmo. Me mantive firme e tomei o café.

Após o café, fui visitar minha irmã, saindo de lá, passei na casa da minha melhor amiga. Agradeci, por nunca ter desistido de mim, por nunca ter se magoado, mesmo com todos os motivos do mundo. Houve uma época na minha adolescência em que, mesmo sem ninguém saber, eu sofria de Transtorno Obsessivo Compulsivo. Nem mesmo ela lembrava que tentou me ajudar e eu não deixei, não me abri. Então pedi perdão novamente e em meio a risadas retirei um livro de uma sacola e o devolvi – 5 anos depois.

No caminho de volta parei no centro, andei até encontrar um senhor que vivia nas ruas, dei a ele um lanche bem reforçado e um guaraná de dois litros.

Quantas vezes adiei tal atitude?

Quantas vezes Deus me incomodou ao ver alguém vivendo nas ruas e eu estava ocupada demais pensando em trocar de carro? Uma conversa com ele não mudaria a vida dele, mas mudaria a minha.

Fui até a Igreja entrei e sentei no último banco, não iria assistir a nenhuma missa, mas passei a vida toda fazendo o que eu não gostava e aquilo que eu achava que talvez pudesse gostar ficou sempre em segundo plano.

Mas não hoje.

Hoje somente as coisas importantes teriam espaço na minha vida. Com um sorriso estampado no rosto, saí de lá segurando nos dedos, um pingo de água benta com o qual fiz o sinal da cruz.

Antes de voltar para casa, eu tinha mais um trabalho a fazer. Escolhi um lugar bonito, verde, com grama fofa e silêncio, no Clube do Laço. Então permaneci em oração por algumas horas, agradecendo a Deus por todas às vezes que Ele não permitiu com que algo que eu queria MUITO se concretizasse, pois desta maneira eu tinha certeza de que minha vida não estava nas minhas mãos.

Ao voltar pra casa, com as poucas horas que me restavam, pensei no que eu gostaria de comer. Qual era meu prato preferido e como eu gostaria de comê-lo pela última vez. Após refletir por alguns minutos cheguei a conclusão de que isto não era importante. Lembrei de algo que alguém um dia me disse: “Fixemos os olhos não naquilo que se vê, mas naquilo que não se vê, pois aquilo que se vê é transitório, é passageiro, mas aquilo que não se vê… é eterno”.

Então troquei um banquete por pizza feita em casa com mussarela e ovos cozidos – Deus como eu adoro isso. Sentei-me no sofá, com o meu cachorrinho Dok e assistimos a vários episódios do seriado Lúcifer. Que “demo” lindo! Queria um igual pra mim!

Eu estava feliz, estava satisfeita. Era um final de dia perfeito, era um final de último dia perfeito. Tudo havia sido simples como Jesus nos ensinou. E por isso eu estava feliz. Passei a vida toda procurando felicidade na complexidade do mundo, quando, na verdade, o auge da felicidade estava ali, na minha frente, gritando para que eu ouvisse, acenando desesperadamente para chamar a minha atenção, mas eu preferia fechar a porta.

Engraçado, no último dia sentimos o que é importante de verdade. No último dia eu não quis ir almoçar no restaurante Peixe na Telha ou no Restaurante Avenida do meu amigo Fagner, não quis ir jantar no restaurante A Varanda, não quis ir ao cinema ou me mudar para uma casa maior. No último dia eu sentia saudades agonizantes do cachorro-quente do Gilmar Lanches, que se mudou da esquina da Escola João Michelin para a Avenida Santo Antônio.

Passear com Dok mais uma vez seria o paraíso e eu daria meu braço direito para voltar no tempo. Com o coração calmo e sereno adormeci. O dia terminou.

No dia seguinte, acordei meio sem saber que horas era ou onde eu estava. Só tinha certeza de uma coisa. Aquele, seria o meu último dia de vida – de novo.

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Fotos: Arquivo Pessoal.

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