A última lenda viva do Carnaval pirajuense

Folião de carteirinha desde a mais tenra infância, o empresário José Carlos Dalla Bernardina, 58, da JC Floricultura e Decoração, Piraju, foi bastante aplaudido na avenida no último domingo, quando desfilou, de pé no chão, para a Escola de Samba “Unidos do Bairro Alto”, o popular “Leão do Morro”. Desde o afastamento de Clóvis Lopes (Peixinho), dos desfiles de rua por motivos de saúde, J C assumiu o posto de “lenda viva do carnaval de rua pirajuense”.

 

ORIGENS- A relação do empresário com o carnaval de rua vem de longa data: exatos 40 anos!  Versátil, já saiu fantasiado em muitas escolas que fizeram bonito: entre elas a notória e inesquecível “Abre-Alas”, de Mestre Crispim, “Príncipe Negro” (que reunia elementos da Vila São José), “Estação Primeira”, da saudosa Baiana (local em que mais desfilou) e finalmente o Bairro Alto.

Em 1994 sua fantasia “Barão do Café” ganhou o Primeiro Lugar na categoria Luxo Masculino em concorrido concurso na vizinha cidade de Avaré. A mesma fantasia saiu às ruas no carnaval de Piraju pela “Estação Primeira”, no mesmo ano, sendo solenemente ignorada na hora das premiações locais. Segundo José Carlos, “nessa época todos os jurados eram sempre pró Juventude Alegre” – outra escola pirajuense, que costumava reunir elementos da dita “elite” da cidade – “e só davam prêmios para ela, todo santo ano. Isso explica a indiferença deles pela minha fantasia premiada e reconhecida lá fora”, desabafa, com certa mágoa na voz.

 

 

 

RETALHOS DE CETIM: J C sempre desenhou e confeccionou as próprias fantasias. Viajava até São Paulo para adquirir os materiais (tecidos, adereços e plumas) para os trajes. “Era tudo bordado e colado à mão”, recorda, “e a gente começava a preparar no meio do ano pra dar tempo”.

Entre as preferidas, destaca “A Pequena Sereia”, sucesso em desfile da “Estação Primeira”, sua escola preferida até hoje, mesmo não existindo mais. Ele lembra com saudade os papos amistosos e gostosos com o artista plástico João Reimão, que deu assessoria à escola por uns anos. E, lógico, da imorredoura Baiana, criadora e mola-mestra de uma escola “que chegou para mostrar que Carnaval não é só coisa de gente rica metida a besta, não”, relembra o empresário, a quem não faltam palavras elogiosas e copiosas saudades da “nossa querida Baiana, que tão cedo nos deixou”, lamenta.

DESPEDIDA: o carnavalesco já anunciou aos amigos que o desfile do último domingo pelo Bairro Alto foi o último para ele. Cita suas influências e referências para uma boa apresentação num desfile de rua e aproveita para lembrar que, na maioria dos anos, saiu em cima de carros alegóricos: Romualdo Dias Vieira, o inesquecível e nunca igualado “Rono”, morto em 1889 em decorrência da AIDS, Clóvis Lopes, o “Peixinho”, seu amigo particular a quem lamenta os problemas de saúde que o impedem de desfilar já faz anos e o amigo Márcio Bergamini, “que sempre usou fantasias de bom gosto e tem um alto astral contagiante”, admira-se José Carlos.

Mesmo tendo desfilado a maior parte de sua bem sucedida trajetória carnavalesca sobre carrinhos alegóricos, o empresário revela seu sonho secreto: sair de pé no chão, na avenida, na ala das baianas, com a tradicional vestimenta delas.

Quem sabe ele desiste da aposentadoria e ainda vamos ver, extasiados, essa cena ímpar? Figuraço!

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CARLINHOS BARREIROS:

É professor, jornalista e escritor. Atuou em Piraju nos jornais “Folha de Piraju”, “Observador” e “Jornal da Cidade”, sempre como cronista ou crítico de Cinema/Literatura. Publicou o livro de contos “Insânia: O Lado Escuro da Lua” (esgotado). Em 2006, foi o primeiro colocado no Concurso de Poesias, Contos e Crônicas da FAFIP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Piraju) com o conto “Sade no Sertão”.

Atualmente, revisa os originais de seu livro de contos ainda inédito, “Freak Show”. Mora em Piraju, onde contribui eventualmente com a imprensa local com crônicas/contos e agora valoriza o site farolnoticias.com.br com seus comentários imperdíveis.

Seu ensaio sobre a contracultura em Piraju nos Anos 60 e 70 do século passado: “Eu, Carlinhos Barreiros, drogado e prostituído” foi publicado com sucesso no blogue da USP (Universidade de São Paulo), do jornalista Luciano Maluly, ficando no top dos Mais Lidos por várias semanas.

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