Uma pesquisa publicada no dia 4 de setembro na revista Nature por pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, estima que mais de 52 milhões de toneladas de resíduos plásticos são despejados no meio ambiente todos os anos. Desses resíduos, a enorme maioria (70%) provém de apenas 20 países.
Os maiores focos de poluição plástica estão na Índia, que descarta 9,3 milhões de toneladas anualmente (aproximadamente um quinto do total global), seguida pela Nigéria, com 3,5 milhões de toneladas, e pela Indonésia, com 3,4 milhões de toneladas. O Brasil também figura nesse ranking, ocupando a oitava posição, com o descarte anual de 1,4 milhão de toneladas de plástico.
Para obter esses dados, uma equipe de cientistas analisou informações sobre a gestão de resíduos em mais de 50 mil áreas municipais ao redor do mundo. Um software de machine learning foi utilizado para criar uma linha de base da produção de resíduos plásticos, tendo o ano de 2020 como referência.
Segundo os pesquisadores, a produção de máscaras e luvas durante a pandemia de covid-19 contribuiu significativamente para o aumento do descarte de plástico global. Outro dado preocupante foi que cerca de 30 milhões de toneladas (57% de toda a poluição plástica) foram incineradas em residências, vias públicas e aterros, sem qualquer tipo de regulação ambiental.
A queima de plástico pode causar graves danos ao meio ambiente e à saúde humana, devido à liberação de gases tóxicos, como o mercúrio. Conforme os pesquisadores, países que não possuem um bom sistema de gerenciamento de resíduos são os que mais sofrem com o impacto de toda essa cadeia.
“Este é um problema urgente de saúde humana global — uma crise contínua: as pessoas cujos resíduos não são coletados não têm outra opção a não ser despejá-los ou queimá-los”, disse Costas Velis, coautor do artigo, em comunicado. “Atear fogo aos plásticos pode parecer fazê-los ‘desaparecer’, mas, na verdade, a queima a céu aberto de resíduos plásticos pode levar a danos substanciais à saúde humana, incluindo defeitos neurodesenvolvimentais, reprodutivos e congênitos”.
“Colonialismo de resíduos”
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente em todo o mundo. Grande parte desse plástico é descartável, de difícil reciclagem e pode permanecer no ambiente por séculos, degradando-se em micropartículas conhecidas como microplásticos secundários.
Em 2022, durante a 5ª Assembleia Ambiental das Nações Unidas (UNEA), 175 países se comprometeram a criar um tratado para enfrentar a poluição plástica, denominado Tratado Global contra a Poluição Plástica, ainda em fase de desenvolvimento. O documento propõe medidas para reduzir a produção de plástico, promover o uso de materiais menos tóxicos e mais recicláveis, além de oferecer soluções para mitigar a poluição existente.
Um dos maiores obstáculos na elaboração do tratado são as divergências entre o Norte e o Sul Global. A prática do “colonialismo de resíduos”, que envolve a exportação do plástico de países ricos para nações com menores rendimentos, que não possuem infraestrutura adequada, é uma questão central nesse debate.
A falta de informações sobre a produção e descarte de plásticos também é um problema. “No passado, os formuladores de políticas tiveram dificuldades para lidar com esse problema, em parte devido à escassez de dados de boa qualidade”, contou Ed Cook, também coautor do estudo. “Esperamos que nosso conjunto detalhado de dados em escala local ajude os tomadores de decisão a alocar recursos escassos para lidar com a poluição plástica de forma eficiente”, disse.
Confira a seguir os 10 principais países que mais descartam plástico do ambiente
Índia – 9,3 milhões de toneladas por ano.
Nigéria – 3,5 milhões de toneladas por ano.
Indonésia – 3,4 milhões de toneladas por ano.
China – 2,8 milhões de toneladas por ano.
Paquistão – 2,6 milhões de toneladas por ano.
Bangladesh – 1,7 milhões de toneladas por ano.
Rússia – 1,7 milhões de toneladas por ano
Brasil – 1,4 milhão de toneladas por ano.
Tailândia – 1,0 milhão de toneladas por ano.
República Democrática do Congo – 1,0 milhão de toneladas por ano.
Fonte: Ajn1