Botucatu – TJSP mantém condenação de MC por apologia ao crime em música sobre assalto em Botucatu

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G1 - Bauru e Marília
Suspeito preso em SP teve participação direta no ataque a bancos em Botucatu — Foto: TV TEM/Reprodução

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve a condenação do funkeiro Érick Rodrigues de Souza, o “MC Bokão”, por apologia ao crime, prevista como crime contra a paz pública. A decisão é de 17 de junho de 2025. O caso aconteceu em 2020 na cidade de Botucatu (SP) quando o MC compôs e divulgou a música “Assalto em Botucatu”. Na música, o MC se coloca no lugar dos criminosos da quadrilha e relata em primeira pessoa os acontecimentos no dia do crime. A pena original era de três meses de detenção em regime aberto, mas foi substituída por multa de 10 diárias no valor mínimo legal, além do pagamento de R$ 15 mil por danos morais coletivos. Segundo a decisão da 14ª Câmara de Direito Criminal, os desembargadores deram parcial provimento ao recurso da defesa para afastar uma agravante genérica, que trata de crimes cometidos para facilitar ou assegurar a execução de outros. Com isso, a pena foi reduzida e substituída pela multa. A condenação por apologia ao crime, no entanto, foi mantida.

Ao g1, o MC declarou nunca ter enaltecido facções ou falado mal da polícia.

Confira a nota do músico:

“Eu sou o tipo de MC que não fica usando a cultura do funk pra ficar justificando, mas no meu caso é algo meio contraditório, porque eu sempre fiz minhas músicas baseado nas reportagens. Eu nunca enalteci facções ou falei mal de polícia, sou uma pessoa do bem, nunca usei droga, não bebo, tenho família, e nunca foi minha intenção criar alguma sensação de poder com as minhas músicas, também não dou de opinar em outros estilos de música, eu só falo por mim e pelo meu estilo, e quanto vocês estiverem noticiando as práticas de roubo, eu vou me sentir confuso sobre essa condenação”.

A Polícia Civil de Botucatu (SP) informou que o MC Bokão, investigado por apologia ao crime após divulgar uma música sobre a ação da quadrilha que atacou agência bancária e aterrorizou moradores da cidade, foi chamado nesta quarta-feira (10) para prestar esclarecimentos. A oitiva vai ser na sede do DEIC, em São Paulo. Segundo a polícia, ele deve esclarecer sobre a música com apologia ao crime e eventual organização criminosa. Um inquérito policial foi aberto depois que o MC divulgou “Assalto em Botucatu”, que já teve, até esta quarta-feira, mais de 70 mil visualizações no Youtube. O MC Bokão informou ao g1 que acredita que foi chamado para falar sobre a música que fez relacionada ao crime, para a polícia entender se ele teve algum envolvimento no ataque.

“Eu tenho meu modo de visão quanto a isso e estou tranquilo porque não tenho envolvimento com nada, represento apenas um personagem e canto o que está na mídia, me coloco na situação. Nunca tive a intenção de fazer apologia ou enaltecer o crime, eu só canto o que é divulgado na mídia”, explica.

Na música, o MC se coloca no lugar dos criminosos da quadrilha e relata em primeira pessoa os acontecimentos no dia do crime. “Nosso objetivo é voltar com vida para casa. Em questão de dias vou bolar um plano, duplicar os malotes para compensar a ‘caozada’,” canta o MC em um trecho da música. “É o criminoso mais ‘psico’ de São Paulo, roubando banco em vários estados e o destino foi Botucatu”, explica outro trecho.

De acordo com o delegado seccional de Botucatu, Lourenço Talamonte Neto, a música faz apologia ao crime, por isso, foi instaurado um inquérito para apurar os fatos. No entanto, não há suspeita de que o MC tenha relação direta aos criminosos que atacaram a cidade. “A previsão é que ele seja ouvido hoje pelo Deic. Nós instauramos inquérito policial em Botucatu para apurar apologia ao crime e eventual participação na organização criminosa. Ele está exaltando com sua letra um fato criminoso que aconteceu em Botucatu e isso é crime”, explica o delegado.

“Ele mesmo cita na letra uma possível volta para Botucatu para resolver, como ele mesmo diz, o ‘caô’, o prejuízo que eles suportaram aqui porque não foi um crime bem sucedido em razão da ação das forças de segurança”, completa.

Ainda conforme Talamento Neto, “ele se autointitula empresário do crime. Por ser uma apologia ao crime, um incentivo, então instauramos um inquérito para apurar. Mas não podemos dar mais importância para isso do que para o crime em si”.

O Ministério Público também foi acionado e o delegado informou que a pena para esse tipo de crime é detenção de 3 a 6 meses. Em seu canal no Youtube, que tem 363 mil inscritos, o MC Bokão se pronunciou após a repercussão da música nas redes sociais.

O ataque em Botucatu começou por volta das 23h30 do dia 29 de julho e durou cerca de três horas. O crime causou pânico na cidade e pelo menos 40 homens teriam participado da ação criminosa. Os bandidos também fizeram moradores reféns e roubaram uma joalheria. A dona da loja acompanhou a ação dos criminosos ao vivo pelo celular.

A troca de tiros intensa foi ouvida de vários pontos da cidade e balas atingiram imóveis em uma das ruas usadas como rota de fuga do bando. Na tentativa de acalmar a população da cidade, um padre fez uma live durante os ataques e pediu proteção. Dois policiais ficaram feridos durante o confronto na madrugada, mas já receberam atendimento médico e passam bem. Imagens de circuito de segurança registraram o momento em que um deles é atingido por tiros.

Na manhã do dia 30 de julho, em um novo tiroteio entre policiais e criminosos na Rodovia Marechal Rondon, um suspeito ficou ferido após ser baleado enquanto tentava fugir. Ele foi socorrido, mas chegou morto ao hospital. A família do suspeito alega que ele é inocente e não participava da quadrilha. Um inquérito foi aberto para investigar a ação da quadrilha e tentar identificar os criminosos. A polícia não descarta a participação do grupo em outros crimes semelhantes ocorridos neste ano na região.

A polícia prendeu, até a manhã desta segunda-feira (10), oito suspeitos de participação no crime em Botucatu. De início, quatro mulheres e um homem foram detidos suspeitos de ajudarem na fuga dos criminosos. Em seguida, um homem de 42 anos foi preso em São Paulo e a polícia confirmou que ele teve participação direta no ataque. Por fim, mais dois suspeitos foram presos no dia 5 de agosto. A Polícia Civil informou que já identificou outros criminosos e segue investigando o crime para prendê-los.

“A quadrilha não é da região, mas tem pessoas envolvidas daqui”, comenta o delegado da seccional. No dia seguinte ao crime, um suspeito foi morto durante troca de tiros com a polícia, mas a família alega que o homem é inocente e não participava da quadrilha.

Em 2021, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) condenou cinco pessoas por ajudarem na fuga dos criminosos. A decisão da 2ª Vara do Foro Criminal de Botucatu determinou a pena de 10 anos e seis meses de prisão em regime fechado a um homem, e outras quatro mulheres foram sentenciadas a nove anos de reclusão em regime fechado e cumprem pena na penitenciária de Votorantim (SP).

Parte do grupo foi preso após uma abordagem da Polícia Rodoviária no pedágio de Itatinga (SP). Ao todo, 19 pessoas foram indiciadas e 16 estão presas. Uma juíza ficou à frente do caso por quase um ano e chegou a condenar alguns envolvidos, mas pediu para se afastar após receber ameaças de morte.

Uma análise feita pelo Instituto Sou da Paz, mostrou que parte da munição usada para matar o delator do PCC Vinícius Gritzbach no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) pertencia ao mesmo lote das munições utilizadas em um grande assalto ocorrido em 2020 em Botucatu (SP), no interior de São Paulo. Segundo o instituto, os três lotes de balas de fuzis encontrados nas ocorrências foram originalmente comprados pela Polícia Militar do Estado de São Paulo entre 2013 e 2018.

Fonte: G1 – Bauru e Marília

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