
A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a queda de um avião usado para salto de paraquedistas em Boituva (SP), em 2022, que deixou duas pessoas mortas. O relatório final indica falha no motor da aeronave e problemas de manutenção nos cintos de segurança.
De acordo com o documento, o motor deixou de funcionar em pleno voo, sem que a fabricante identificasse defeitos de fabricação. A investigação aponta que, em tese, o mau funcionamento estaria ligado ao uso inadequado do manete de potência (EPL) pelo piloto.
O relatório cita ainda que a manutenção dos cintos de segurança não foi eficaz para garantir a integridade do material. Muitos suportes apresentavam corrosão e se soltaram no impacto, o que contribuiu para a gravidade das lesões sofridas pelos paraquedistas.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) já havia apontado que a utilização incorreta do EPL durante treinamentos de emergência poderia ter contribuído para a degradação do motor.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, em nota, que o inquérito foi relatado pela Delegacia de Boituva e encaminhado à Justiça. Segundo a pasta, todos os laudos do Instituto de Criminalística (IC) e do Instituto Médico Legal (IML) foram analisados, e as diligências determinadas pelo Ministério Público foram cumpridas.
Procurado, o Ministério Público disse apenas que o caso segue em segredo de Justiça, sem informar prazos para eventual denúncia ou arquivamento.
Imagens feitas no interior do avião revelam momentos de tensão e desespero. O acidente provocou a morte de duas pessoas, além de ferimentos em outras nove — sendo cinco delas com lesões graves.
As imagens foram gravadas pelas câmeras dos capacetes dos paraquedistas. Técnicos do Cenipa analisaram as gravações para montar o relatório sobre as prováveis causas do acidente. Eles também estiveram no local do acidente e analisaram a aeronave.
No vídeo do interior do avião, é possível observar quando o piloto Lucas Marques anuncia para os paraquedistas assumirem posição de emergência durante o voo. Além dele, o Cessna 208 Caravan transportava 15 pessoas. Eles estavam a 350 metros de altitude.
A aeronave tinha decolado do Centro Nacional de Paraquedismo (CNP), em Boituva, na manhã de 11 de maio daquele ano. Durante o voo, o motor apresentou problemas, perdendo potência e altitude. A câmera de um paraquedista chegou a flagrar o momento em que chamas saem pelo escapamento do motor.
Como não havia possibilidade de retornar ao aeródromo, o piloto decidiu fazer um pouso de emergência na área de pasto. O vídeo registra o momento em que ele avisa os paraquedistas para se prepararem para o impacto.
Quando o avião toca o solo, alguns dos passageiros chegam a demonstrar alívio. “Deu bom, deu bom”, comemora um deles.
Com base nas imagens e na dinâmica do acidente, os peritos do Cenipa estimaram que o Cessna tocou o solo a uma velocidade de 102 km/h. Eles calcularam que a aeronave percorreu 200 metros em sete segundos, atravessando o pasto e batendo contra uma cerca de arame e um barranco, à margem de uma estrada de terra.
Foi neste momento que o avião capotou, terminando com o trem de pouso para cima. Nas imagens do interior da cabine, os paraquedistas aparecem de cabeça para baixo, gemendo e gritando por socorro. Mais impressionante é a sequência que mostra uma paraquedista sendo arremessada para fora do avião quando ele bateu no barranco. A imagem dá várias voltas até ela terminar caída no pasto.
Na queda da aeronave, dois paraquedistas morreram: André Luiz Warwar, de 53 anos, e Wilson José Romão Júnior, de 38 anos. Outras cinco pessoas ficaram com lesões graves, entre elas o piloto Lucas Marques. Quatro tiveram ferimentos leves e cinco não se machucaram.
Com base no relatório do Cenipa, o perito Robeto Peterka, especialista em segurança aérea, afirmou que a pane no motor pode ter sido causada pelo uso deficiente do dispositivo que controla a quantidade de combustível no motor, resultando em uma potência excessiva.
O Cenipa verificou que o dispositivo EPL ainda era utilizado frequentemente em treinamentos pela empresa proprietária da aeronave, em desacordo com a orientação do fabricante, que prevê a utilização apenas em situações de emergência.
Ainda no relatório, o Cenipa apontou que os suportes dos cintos de segurança estavam corroídos, o que contribuiu para que se soltassem durante o impacto do avião com o barranco.
A empresa Sky Dive For Fun, que era dona do avião, informou que o inquérito está sob segredo de Justiça em obediência à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e que, por isso, não pode comentar o caso.
Fonte: G1 – Itapetininga e Região




