BAURU E MARÍLIA – Número de adolescentes com sobrepeso e obesidade aumenta quase 300% em 10 anos

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Casos de sobrepeso e obesidade infantil crescem em Bauru e Marília — Foto: Reprodução/G1
Casos de sobrepeso e obesidade infantil crescem em Bauru e Marília — Foto: Reprodução/G1

Uma alimentação baseada em fast food, lanches ultraprocessados e refeições açucaradas fez com que, pela primeira vez na história, o número de crianças com obesidade no mundo todo superasse o de crianças com subnutrição. Essa informação foi divulgada em um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), publicado em setembro deste ano.

Os adolescentes de Bauru (SP) e Marília (SP) também passaram a integrar o preocupante cenário do sobrepeso. Uma análise de dados feita pelo g1 revelou um aumento de aproximadamente 283% no número absoluto de adolescentes (de 10 a 19 anos) com excesso de peso ou obesidade entre 2014 e 2024 em Bauru. Em Marília, o aumento registrado foi de cerca de 277%, também com base no número absoluto de adolescentes na mesma faixa etária.

O documento *Alimentando o lucro: como os ambientes alimentares estão falhando com as crianças*, que utilizou dados de mais de 190 países, confirmou que os adolescentes de Bauru e Marília também fazem parte desse cenário preocupante de sobrepeso e obesidade. Esses dados foram obtidos por meio do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do SUS (Sisvan).

Segundo a Unicef, alimentos com altos índices de gordura trans, ultraprocessados e com quantidades excessivas de açúcar e sal adicionado estão, globalmente, mais acessíveis às crianças. Essa exposição a ambientes alimentares não saudáveis afeta tanto as crianças com excesso de peso quanto aquelas com subnutrição, pois substituem a alimentação tradicional por alimentos importados, baratos e altamente calóricos, que não contribuem para uma dieta balanceada e nutritiva.

No Brasil, a obesidade superou a desnutrição como o tipo mais comum de má nutrição desde antes do ano 2000.

Renata Kruger, nutricionista especializada em nutrição materno-infantil, seletividade alimentar e nutrição aplicada ao autismo em Bauru, destaca os principais sinais de sobrepeso e obesidade infantil:
“Os principais sinais são IMC elevado para a idade, ganho de peso rápido, cansaço, falta de energia, dores nas articulações e dificuldade para respirar.”

A análise de dados do g1, baseada no Sisvan, também apontou que, enquanto o número de adolescentes com excesso de peso ou obesidade aumentou significativamente, o número de crianças de até cinco anos com obesidade e sobrepeso diminuiu em Bauru e Marília, com reduções de 45% e 52%, respectivamente.

Renata Kruger explica ainda como o uso de telas influencia a relação da criança e do adolescente com a comida:
“As telas podem ser prejudiciais, principalmente quando as crianças se alimentam em frente à televisão ou ao celular. Nesse momento, elas não prestam atenção no que estão comendo, o que dificulta identificar se estão saciadas. Além disso, o consumo excessivo de telas contribui para o sedentarismo, já que a criança fica mais tempo parada e menos tempo brincando, correndo ou praticando esportes.”

Thiago Viana, médico do esporte e nutrólogo, ressalta que questões hormonais também podem estar relacionadas aos casos de sobrepeso e obesidade:
“Hormônios como os da tireoide, a insulina, a leptina e a grelina influenciam diretamente no controle de peso. Alterações nesses sistemas podem dificultar o emagrecimento. O ideal é investigar em consulta médica e tratar doenças específicas quando necessário, além de adotar hábitos que naturalmente equilibram os hormônios, como sono de qualidade, alimentação adequada e prática regular de exercícios.”

A mudança desse cenário depende de uma série de hábitos em busca de uma vida mais saudável, que incluem alimentação balanceada, sono regulado e exercícios físicos. No entanto, para crianças e adolescentes, atingir a disciplina necessária pode ser mais difícil e deve ser incentivada pelos pais e responsáveis.

Thiago Viana destaca a importância do ambiente doméstico:
“O ambiente doméstico tem enorme impacto no peso e na saúde. Planejar as compras, evitando alimentos ultraprocessados, fazer refeições em família e dar bons exemplos são estratégias poderosas. As crianças tendem a imitar os pais, e, se veem os adultos praticando atividade física, passam a encarar isso como algo natural.”

O médico também enfatiza que o exercício físico é um grande aliado nesse processo, pois aumenta o gasto calórico, melhora a sensibilidade à insulina, regula hormônios ligados à fome e reduz o risco de doenças associadas, como diabetes e hipertensão.
“Pessoas ativas tendem a ter menos episódios de fome emocional. Até uma caminhada de 30 minutos ajuda a controlar o estresse e facilita escolhas alimentares melhores.”

Renata Kruger finaliza com um conselho aos pais:
“Uma estratégia que costumo sugerir é a criação de gincanas com premiações simbólicas, como escolher o próximo passeio ou ganhar um adesivo colecionável. Essas pequenas recompensas tornam o processo mais leve e prazeroso para a criança, o que é muito motivador.”

Fonte: G1 – Bauru e Marília

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