O teatro desempenha um papel vital na sociedade, promovendo a cultura, a educação, a interação social e o bem-estar emocional. É uma ferramenta poderosa para preservar e transmitir a cultura, os costumes e as tradições de uma sociedade. As peças teatrais estimulam o pensamento crítico, incentivando o público a refletir sobre temas e questões. Promove a empatia e a compreensão de diferentes perspectivas e experiências e ajuda a desenvolver habilidades emocionais, sendo uma experiência coletiva, promove a interação e o diálogo entre o público.
Oferece muitas vezes uma experiência catártica, permitindo que o público processe emoções de forma saudável. Pode divertir, inspirar e emocionar e pode ser usado como ferramenta terapêutica para tratar ansiedade, depressão e outros problemas emocionais.
Para escrever essa breve introdução levei em conta textos que falam sobre a importância do teatro, mas eu nem precisaria, pois sou a prova viva do quanto o fazer teatral é importante.
Permitam-me contar um pouco de minha história: teve um momento de minha adolescência e início de juventude que quis ser roqueiro na acepção mais completa desse termo e fui tentar ser vocalista de uma banda aqui de Itaicity, a Skalla Richter. Eu era um moleque tímido, um tanto depressivo e bastante retraído. Na música fiquei na tentativa. Descobri que não tinha o menor talento para aquilo e graças a Deus escapei de entrar pra história itaiense por conta dos muitos micos que ocorreriam se tentasse seguir castigando os ouvidos dos outros, cantando.
E ao sair da banda para que ela se tornasse o que viria a se tornar, uma banda de rock da região bastante respeitada, eu resolvi me dedicar a outra arte, o teatro.
Participei de um curso e comecei a fazer teatro amador. Encenei esquetes teatrais e já professor montei pequenas peças com alunos das escolas “João Michelin” e “Abílio” ao longo de vários anos. Também tive um grupo de teatro amador e, diletante, que era, fui montar uma peça para participar do Mapa Cultural Paulista em 1998. A peça escolhida era a “O Velório”, uma adaptação feita pela Wandenilza Caldonazzo, uma ilustre mineira cuja família viera residir aqui em Itaí e, que como eu, passaria a ser itaiense de coração.
É preciso que seja compreendido que meu trabalho com o teatro sempre foi diletante e amador. Que a nossa participação naquele Mapa Cultural fora só uma participação e não teve nenhuma pretensão de conseguir classificação para a outra fase, já que competíamos com grandes grupos de teatro, alguns já profissionais. Tirar risos da plateia mostrando uma encenação nonsense era o nosso único objetivo.
Para os meus alunos, amigos e conhecidos que se dispuseram a essas verdadeiras aventuras teatrais havia um sentimento de alegria constante e de satisfação em conseguir que as encenações dessem certo. Era isso o que nos movia e que fazia tudo fazer sentido. E para quem faz arte é isso que faz parte do sentimento de realização que o fazer artístico possibilita.
Não consigo me lembrar exatamente quando é que decidi parar com o teatro. Com certeza, foi uma decisão relacionada ao tempo. Não ter tempo para quase nada é uma realidade de todos os professores, infelizmente. E não ter tempo para ensaiar, para trabalhar um texto com calma realmente torna a atividade teatral muito difícil. Só afirmo uma coisa: embora não faça mais teatro, o que o teatro me propiciou nunca saiu de mim. Se sou professor hoje, muito devo a essa arte.
Salta para a noite do dia 25 de outubro desse ano corrente de 2024 e eis que sou surpreendido por um grupo de teatro aqui em Itaí encenando uma peça chamada “Menina Veneno” que é baseada no mesmo texto da Wandenilza lá do passado. E eles inovam dessa vez estreando a peça na escola em que tão orgulhosamente trabalho. A apresentação na quadra do “Abílio” foi surpreendente por vários aspectos. Havia público interessado em ouvir os atores e atrizes da peça e estava totalmente concentrado na história que estava sendo contada. Os alunos que formavam o público estavam dispostos a se divertirem com a comédia que repete o mesmo nonsense lá da primeira encenação. Havia o tão fundamental silêncio que só era interrompido por risos, gargalhadas e aplausos. Sim, o que os Arteiros, grupo tão bem capitaneado pelo perseverante Andrew está conseguindo é formar um público capaz de compreender que uma apresentação teatral tema mesma importância de um evento musical que vez por outra temos aqui na cidade. E isso, é bom que se reafirme, não é pouco.
A peça que com certeza terá outras sessões mostra um velório acontecendo num desses botecos de “último gole” com personagens que fazem um retrato de figuras carimbadas do nosso país, como o torcedor fanático, o sertanejeiro e o batedorzinho de carteiras desclassificado. É uma crítica aos costumes que não são tão bons assim e torce e retorce o texto original para entregar uma história muito diferente daquela da peça que eu encenei. A peça “O Velório” que realizamos lá nos idos dos anos finais dos anos 90 era um tanto diferente e isso é o que faz tudo ser tão interessante. Meu grupo, faço questão de contar era formado por Irair (hoje professor de educação física), Eliane (atualmente servidora pública tomando conta do Sebrae aqui em Itaí e agenciadora de viagens), Solange (que se tornou enfermeira), Nislete (que hoje é esteticista), Vanessa Castilho (médica psicanalista) Silvanei (que hoje mora na Irlanda e trabalha na área da saúde lá) e o Thiago (que parece que atualmente trabalha na Bayer). Enfim, como todos percebem, todos continuaram suas histórias de vida e se tornaram vencedores.
Já o grupo de teatro d’os Arteiros é formado por Andrew D’Melo, Aninha Melo, Brenda Mazetto, Gabriel Egídio, José Vítor Santos, Luan Patrick, Stephanie Cristina e Will Vieira que merecem os nossos parabéns!
Pra concluir quero agradecer a deferência ao final da apresentação. Eu e a Wandenilza recebemos uma bela homenagem. Senti-me muito honrado. Fiquei muito feliz com a sensação boa e reconfortante de que nada nessa vida é em vão. E espero de coração ver cada vez mais encenações e que mais e mais a população itaiense saiba valorizar os Arteiros do Teatro de Itaí.
Por Marco Antônio